"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." Charles Chaplin

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Compra-se amor?

- Qual é o seu número?
- Trinta e sete!
- Vou pegar para você então!
Ela sorriu como resposta e o observou sair apressado para pegar os sapatos. A loja estava cheia e o dia congelante. Esbarrando a bolsa em algumas pessoas, finalmente conseguiu sentar-se em um banco onde tirou suas luvas e arrumou o cabelo.
O vendedor era jovem como ela. Tinha ombros largos, pele morena e cabelo escuro. Seus olhos eram claros e a fitavam de modo diferente, e ela gostou dessa atenção. Era alto e forte, e conseguia seguir sua conversa mesmo sem conhecê-la. Ficou imaginando se ele não fazia todas suas clientes se sentirem assim.
Mas isso não importava agora, ele estava descendo as escadas. Ela acenou para ele, pois não a estava encontrando, e com um sorriso foi em direção a ela com várias caixas em seus braços. Ela o observou colocar as caixas no chão e ficou ouvindo seus comentários e opinião de cada sapato enquanto ela provava. Estava se divertindo, e sua companhia era agradável. Já havia se passado 30 minutos, e não escolhera nenhum!
Finalmente ela conseguiu ver em seu crachá o seu nome: Richard.
- Gosto do seu nome!
Ele a encarou surpreso, depois olhou para o crachá, e sorriu.
- Gostaria de saber o seu. Qual é?
A menina sorriu, mas percebeu algo que a deixou sem palavras. Na mão em que ele segurava seu crachá, tinha uma aliança. Aliança? Tentando reprimir sua raiva por ter se imaginado ao seu lado, olhou para o relógio.
- Perdão, mas está muito tarde e eu preciso ir!
Ele a encarou confuso.
- Já? Não vai nem levar um sapato?
- Vou, o roxo!
Richard levantou-se, fechando as caixas e levando a compra ao caixa. Uma mulher já de idade, de aparência simples a atendeu, e ela a apagou.
- Obrigada!
A jovem deu meia volta com pressa, e viu que Richard a esperava. Ele se aproximou, quase a tocando, e seus olhos claros tentavam descobrir o que havia acontecido com sua cliente, mas ela recusava-se a encará-lo.
- Ei! – ele sussurrou, e ela encarou sua mão, com aquela maldita aliança, agora na dela e finalmente olhou para seu rosto. – Você não me disse seu nome.
Ela riu.
- Não, não disse.
Então, se soltou de suas mãos, e com passos apressados contornou seu corpo. Com um suspiro, pegou suas luvas que já estava esquecendo e deu um sorriso, contente por estar saindo daquela loja. Ainda sentia os seus olhos a observando.
De algumas coisas tinha certeza: primeiro, nunca mais voltaria àquela loja, segundo, estava muito feliz por não ter dito o seu nome. Além do mais, ela nem gostava da cor roxa.  

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dafnee

Dejan Mars estava deitado em sua cama com as mãos em sua barriga e com o olhar fixo no teto. Não fazia idéia de que horas eram, mas a verdade é que ele não conseguia dormir. Havia algo que o estava incomodando muito, algo que ele nunca tinha sentido antes. O silêncio era absoluto e podia sentir o seu coração bater pesado em seu peito, não tinha sido um dia fácil e ficava irritado pelo fato de não poder fazer mais nada. Ele virou de lado e ficou olhando a luz que passava por baixo da porta de seu quarto. Começou a lembrar do dia em que a conheceu, 7 anos atrás. Ele era tão novo, 10 anos, e nunca passou por sua cabeça que um dia essa sua amizade chegaria a isso.

- Você vai pela grade da frente e eu pulo o muro do lado. – falou Luca entre risadas para Dejan, não conseguindo conter o entusiasmo.
- Cuidado para não ser pego. – foi o que conseguiu dizer.
Com os fósforos num bolço, e a caixinha de traques no outro ele pulou no grande quintal da casa desconhecida. Fazia tempo que eles planejavam pegar sua bola, mas tinham medo. Sua Vó sempre dizia “ Não brinquem de bola aqui no quintal porque pode cair na casa do vizinho, e ele é muito bravo. Nunca devolve uma bola!” . Como foram desobedientes, tinham que concertar a situação do jeito deles.
- Ali. Sussurrou Dejan, apontando para a bola. Luca, na ponta dos pés, atravessou o gramado e pegou a bola. Mas então, congelou em seu lugar e o olhou com olhos penetrantes. – Corre! - E saiu correndo para o muro por onde havia entrado.
- Aaai!
- Não reclama menino!
Alguém o puxava pela orelha até o que parecia uma oficina, mas depois viu um portão. Ele segurava com toda força a bola em seu peito, e se sentia humilhado e envergonhado. Nem sabia o que dizer para se desculpar pela invasão, e muito menos queria olhar o terrível homem. O que sua Vó falaria se descobrisse?
O homem chegou na frente do portão de madeira, e com um puxão o fez ficar de frente para ele, ou melhor, para ela. Dejan não conseguiu conter sua surpresa, e soltou um “oh”. Na sua frente estava uma menininha engraçada, de olhos grandes e redondos. Sua pele era clara, e tinha uma cicatriz em sua bochecha. Seu cabelo estava todo despenteado, e ela ficava nas pontas dos pés para falar com ele olhando diretamente em seus olhos.
- O que você tem na cabeça para invadir a minha casa? - Incrivelmente ela parecia muito brava – Da próxima vez é só pedir para eu pegar a sua bola. Então, ela revirou os olhos e resmungou “meninos”.
Foi assim que Dejan Mars conheceu Dafnee, e a partir daí, eles passaram a se ver quase todos os dias.

Ele se mexeu na cama, inquieto. Uma lágrima rolava por seu rosto e um vazio tomou conta de seu interior. Já sentia falta dela. Ele tirou o braço direito de baixo do lençol e começou a mexer em sua aliança. Já sentia falta de suas mãos na dele e de seus braços em volta de seu corpo. Se sentindo fraco, ele fechou os olhos.

A noite estava linda, fresca e silenciosa. Em cima deles as estrelas brilhavam, e a lua os iluminava, mas algo não estava deixando tudo perfeito. Havia alguma coisa com Lisa, mas ele não sabia o que era. Ela não era quieta assim, geralmente ela falava mais do que a boca, e ele gostava disso. Ele era o quieto, e ela a tagarela.
- Dafnee, – ele a puxou para sua frente e segurou suas mãos. Ela fitava o chão. – O que aconteceu?
Lágrimas começaram a rolar por seu rosto, e isso partiu seu coração.
- Dejan, - ela a olhou profundamente e ele pode sentir sua dor – eu fui ao médico e fiz várias consultas, exames, testes, e está confirmado.
- O quê?
Ela suspirou.
- Eu tenho leucemia.
O ar pareceu sumir de seus pulmões e ele não sabia o que fazer. Ele perderia Lisa, aquela que amava.
- Quanto tempo? – ele percebeu um tremor em sua voz.
- Um ano.
Ele começou a chorar e a puxou para seu corpo. Ele a abraçou como nunca, e sentiu, com uma intensidade que nunca tinha sentido antes, que a amava muito, e que era com ela que gostaria de enfrentar o futuro. Ela se afastou se seus braços e passou sua mão em seu rosto.
– Vai ficar tudo bem. Nós vamos aproveitar esse tempo que nos resta não vamos?
Ele estremeceu, ela sempre foi a corajosa.
- Sim, nós vamos.
Então, ele a beijou com todo o seu amor e carinho. Ele a amava.

O telefone tocava. Não queria que tudo acabasse, por isso ficou apenas observando a luz piscar no quarto escuro. Ele sabia que sua mãe estava acordada, e não estava pronto para isso ainda. Esse ano havia passado muito rápido.
- Alo?
Ele fechou os olhos. Por muito tempo havia sonhado com esse dia, e dês da hora que saíra do hospital sabia que havia algo estranho no ar.
- Ai, falo sim. – Sua mãe começou a chorar. – Meus pêsames.
Ouviu o telefone desligar, e ficou ouvindo os soluços de sua mãe ali perto. Sentindo a força que julgava ter acabado fazia tempo, abriu a porta do quarto e caminhou até sua mãe, e abraçado a ela deixou sair tudo o que havia segurado ao longo do ano. Dafnee se fora.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

De Rose

Estava meio revoltada esse dia. :D Rs. E desculpem a demora, estou sem computador.

De: Rose
Para: Robert
    Ah o amor, uma coisa linda. É ele que nos faz dançar no quarto depois de uma conversa com aquela pessoa, é ele que nos pega de surpresa com apenas um olhar e que sela o seu encanto com um beijo. O amor é o melhor sentimento que existe, na verdade, para alguns, ou melhor, para aqueles que o tem correspondido. Mas nós, o resto, que choramos escondidas no banheiro porque ele ama outra, que rasgamos fotos e que brigamos com as amigas porque tudo acabou e que ficamos esperando ele puxar um assunto na internet ou que pelo menos te cumprimente ao passar ao seu lado! Nós também merecemos atenção. 
    O amor pode ser o melhor sentimento do mundo, mas junto com ele vem o sofrimento. É ele que também nos faz ter as piores festas, que nos faz sentirmos sozinhos mesmo rodeados de pessoas. Mas sabe o que mais me irrita? O amor é traiçoeiro. Mesmo que estejamos sofrendo muito, não resistimos a esperar que essa pessoa nos ame, que dê sua mão nos momentos difíceis e que te abrace como nos velhos tempos. 
    Mas aí está você, olhando para mim chorar silenciosamente em meu canto, você sabe que eu posso estar bem por fora, mas por dentro eu estou arrasada, você me conhece como ninguém mas mesmo assim não fala comigo. Você fica me assistindo chorar, mas tudo bem, porque eu gosto do jeito que você me olha e que mente. Você ri quando falo que ainda o amo, e não acredita no que digo. Eu não consigo falar tudo o que sinto por você, pois da mesma intensidade que eu o amo, eu o odeio. Talvez para você tenha sido apenas um jogo, mas para mim foi coisa séria. Ainda lembro das vezes que você sussurrava em meu ouvido que me amava. Tudo aquilo era também mentira? 
    Incontáveis são as vezes que nós, os rejeitados queremos fugir para longe, para não se pegar olhando aquele rosto que nos faz chorar e que não sai de nossas cabeças, mas eu simplesmente não posso mudar nada em você!

Marx Radix

Bom. Aqui eu tentei algo novo. Espero que gostem ;x

01-04-2000 
    - Josh!
    O velho levantou-se do chão segurando ainda a caixa de massa de tomate. O outro, de rosto vermelho, não o esperou responder.
    - O chefe está mandando você ir no porão para tentar concertar o problema da energia. 
    - No porão? – perguntou espantado. 
    Pedro deu uma risada curta.
    - Eu fiz a mesma pergunta para ele, e o chefe disse – ele ficou vesgo e engrossou a voz – não há nada lá que vá te matar!
    Então os dois riram.
    - Pode deixar que eu termino essa prateleira para você. Ah, e não se esqueça do Marx Radix! – ele tentou fazer uma voz tenebrosa. 
    O velho se virou abanando a cabeça e começou a atravessar os longos corredores do supermercado que estavam cheios, era dia de promoção. Ele sabia que Marx Radix era apenas uma lenda, que os próprios empregados inventaram para se divertir, e ter o que rir na hora do almoço, mas a idéia de entrar lá sozinho já era ruim, ainda mais o fato de estar velho, pois agora era mais restrito aos seus movimentos. E por muito tempo a piada vem sendo que Marx ficava no porão, pois fazia anos que ninguém ia lá. 
    “Permitido entrada apenas para funcionários”
    Josh empurrou a porta, e atravessou o pequeno quarto. Pegou no armário a caixa de ferramentas e pegou na gaveta a lanterna.
    Com passos lentos se dirigiu à pequena porta de madeira que ficava no fim do corredor mal iluminado, e abriu-a. 
    - Credo!
    O porão estava horrível. Haviam teias, moscas. Nem se fala da falta de ventilação e de iluminação. Tinha caixas jogadas, ratoeiras armadas, baratas na parede, infiltrações. O porão tinha um cheiro horrível, e era muito grande. 
    - Espero que isso não faça mal para o meu pulmão, - resmungou – o seguro de vida está muito caro!
    Ao passar pela porta, seus olhos por um momento ficaram cegos, e nesse instante o tempo pareceu parar, pois ouviu alguém chama-lo pelo nome, e segurar sua mão. 
    Assustado começou a balançar sua mão, tentando se livrar da pressão. Suas mãos com o toque ardiam, e seu pulso doía. Finalmente a visão voltou e ele prendeu o fôlego. Não tinha ninguém ali, estava sozinho. Ele olhou para o pulso, mas nada, nenhum corte. Estranho.
    - Legal – ele começou a descer os degraus, que rangiam – sou um velho que só reclama e estou com medo de um cara que nem existe!
    Já havia descido bastante, mas a escada parecia não acabar. Enquanto isso vasculhava o porão. Ele mesmo não sabia se era para ter certeza de que não tinha ninguém ali com ele, ou para ver se encontrava algum interruptor. Então, pisou em falso. O degrau quebrou e seu pé ficou preso. O velho instintivamente soltou o que segurava e se segurou no corrimão. A lanterna se apagou. 
    - Droga!
    Sem conseguir ver nada, começou a apalpar o chão a procura da lanterna. Percebeu que seu pé estava preso no último degrau.
    - Ai! – gritou.
    Começou a abanar a mão, mas o negócio não soltava. Finalmente conseguiu tirar o que parecia ser uma ratoeira de seus dedos e os colocou na boca. Em meio aos seus gemidos conseguiu ouvir alguém rir. Era uma voz rouca.
    Ele arregalou os olhos e tentou ouvir a voz, mas o silêncio tomou conta do ambiente. Ele olhou para cima, a porta estava muito longe. Ele voltou os olhos para a escuridão. É, ele teve certeza de que não estava sozinho ali, mas precisava terminar o serviço. Ele sabia que ninguém iria acreditar nele, e que ele perderia o emprego, de novo!
    Suas mãos ardiam. Ele tentava desesperadamente tirar o seu pé dali. A escuridão era muito desconfortável, queria sair dali. Estava exausto. E além do mais, estava se sentindo muito vulnerável.
    - Finalmente! – ele sussurrou.
    Com medo, saiu apalpando o chão. Encontrou a lanterna. Aterrorizado com o que poderia ver, a ligou. Nada. Ele iluminou todos os cantos, mas não tinha nada! Ele soltou a respiração.
    - Acho que estou tomando muitos remédios.
    Ele pegou a caixa de ferramentas do chão e caminhou até um interruptor que não percebera antes. Não aconteceu nada. Vasculhou nas paredes a caixa de força. Tropeçando nas caixas, chutando as ratoeiras e desviando das teias chegou à caixa. Suas mãos tremiam.
    Enquanto mexia nos fios começou a rir de sua situação. A poucos minutos estava acreditando que existia um homem de olhos roxos, com o nariz onde deveria ser a boca e que se alimentava de homens. Simplesmente ridículo.
    Ah, ainda tinha mais. Marx Radix tinha unhas de 10 centímetros verdes florescentes. 
    Escuro.
    - Mas que azar!
    Sem soltar o fio colocou a mão no chão, e segurou algo. Não era lanterna. Ele olhou para baixo e gemeu. Tirou a mão e começou a se arrastar no chão até aonde achava que estava a lanterna, enquanto fugia daquelas unhas verdes.
    - Não! Você não existe! – ele gritava.
    Ele trombou na parede.
    - Josh – Marx falou – tome sua lanterna.
    - Vá embora!
    - Não. Estou com fome!
    Ele achou uma tábua solta e a segurou. Podia sentir o mau hálito perto de seu rosto. As unhas verdes, a única coisa que se conseguia ver naquele escuro, estavam próximas.
    - Não! Ele gritou, e então bateu com toda sua força no Radix.
    Ele pode ouvir o pesado corpo cair no chão. Aterrorizado mergulhou na escuridão e saiu correndo em direção a porta que ainda estava aberta.
    E então tudo aconteceu muito rápido. Num segundo estava no chão e no outro imóvel, com aquelas unhas em seu peito e pescoço.

18-08-2005
    - Josh! Pare! – gritou o enfermeiro – Peguem a camisa de força.
    O velho se contorcia na cama. As lembranças não iam embora. Aquelas unhas, os olhos roxos, a voz. Tudo!
   - Ele existe! O Marx! – Ele insistia gritando.
    - Não Josh, você está louco! Gente, traz morfina.
    Josh tentava se livrar das mãos que o seguravam. Eram muitas. Estava desesperado.
    - Não me apaguem de novo! É na escuridão que ele aparece. Ele está me esperando.
    - Josh – sentiu a agulha o espetar – você está louco.
    Tudo de apagou. Então, lá longe na escuridão ele pode ver aquelas unhas brilhando vindo em sua direção

Um ser confuso!

    Não consigo entender como as pessoas conseguem ser assim às vezes, tão insignificantes com nossos sentimentos e com as coisas em geral. Pensava que quando um amigo estava triste, o outro deveria chorar com ele. E quando estivesse feliz, o outro deveria alegra-se com ele, mas nesse mundo de hoje, os padrões estão sendo quebrados, pisoteados no chão e completamente ignorados! Dês de quando ouviu-se falar que amizade acaba assim, num estralar de dedos? Se isso aconteceu, não era uma verdadeira amizade. Porque uma amizade dura para o resto da vida. E tem mais. Hoje em dia as pessoas usam a frase "eu te amo" todos os dias, por motivos bobos. Elas não sabem como essas três palavras são tão importantes e fortes. O verdadeiro significado do amor está se esfriando no coração das pessoas. Aonde já se viu um pai matar um filho e vice versa? Ah, e tem a questão da "etiqueta" - se é que me entendem. Antes, quando uma mulher entrava num cômodo, os homens se levantavam e faziam uma pequena reverência, agora, quando uma mulher entra você não sabe como comprimentá-la. Um abraço? Um beijo no rosto? Um aperto de mão? É, o ser humano é confuso, e complicado de entender. Seria melhor se a inocência e a alegria da infância não se perdesse na vida adulta, pois isso com certeza faz falta nesse mundo, a paz, o amor, a justiça! E não estou falando como eu-lírico, e sim como Allana.

Até os sonhos

- Que bom filho! - Sussurrou ela.
O menino, confortado em seu colo, lhe contava as novidades, enquanto juntos admiravam o oceano. A praia estava vazia, e o dia estava maravilhoso. 
- Para onde você quer ir em nosso próximo encontro? – perguntou a mãe enquanto mexia em seu cabelo louro. 
Ele fechou os olhos, e finalmente uma covinha surgiu em sua bochecha, seguido de um sorriso torto.
- Roma!
A mãe riu, e juntos suspiraram. Eles formavam uma dupla perfeita!
- Aposta uma corrida até o mar? – ela perguntou com os olhos brilhando, a fim de espantar as lágrimas. 
O jovem de apenas nove anos sorriu.
- Já! – gritou ele, correndo em disparada com seus pés descalços pela areia.
A mãe, surpreendida começou a romper em risadas, e levantando-se, tentou acompanhar o garoto. 

- Filho, – cutucou seu pai, interrompendo seu sonho – você vai se atrasar para a escola!
Resmungando, ele saiu da cama, e seu dia no colégio foi como nos outros, divertido. Ele era um garoto que se enturmava fácil, porém guardava sempre uma enorme ansiedade em seu coração. 
Quando já se encontrava no carro, ele pedia impacientemente para o pai ir logo, pois tinha um encontro.
O pai sorriu.
- A onde filho?
- Em meu quarto!
O pai o encarou por um segundo, voltando em seguida à se concentrar na avenida congestionada.
- Com quem? 
- Com mamãe – respondeu o garotinho, com um imenso sorriso. 
Foi a vez do pai se calar, preocupado. 
- Filho, sua mãe foi embora, para sempre. Ela agora não está mais doente, ela está no céu.
O pequeno Pépi olhou para baixo, calado, mas encarou os olhos castanhos de seu pai.
- Não, você está enganado! Eu a vejo todos os dias, em meus sonhos! 
O pai ficou quieto, tinham chegado. O menino, percebendo a chegada, pulou do carro e saiu correndo, jogando a bolsa no meio da sala e trancando-se no quarto. 
Fechou as janelas, ligou o ar, e tirou os sapatos.
Num pulo deitou na cama, e com um sorriso torto nos lábios, adormeceu.

Pra minha amiga Júú Nunes , que me dá coragem para ir pro colégio todos os dias *-*

Lygia Maier

    Bom, eu sempre fui uma menina que sonhava demais, e acho que é por isso que minhas histórias ficam boas. E acho que essa é uma boa idéia. Vamos começar... 
    Aqui está ela, atravessando o mundo, e o mais interessante, a pé. Faz quatro meses que ela vem andando sem descansos, sem cansaço, sem remorsos por ter deixado tudo para trás. Ela está feliz, e seu coração, ansioso. Seus olhos esperançosos, e verdes, olham sempre o horizonte, esperando achar aquilo que a colocou nessa jornada. 
    Nesse instante seus pés descalços afundam na terra fofa da imensa plantação de trigo. Seu cabelo vermelho, cor de cobre, balança conforme o vento e em suas mãos se encontra uma linda rosa branca. 
Seu longo e impecável vestido branco arrasta-se no chão. Ela não sente medo, sono, sede, nada. Sua maquiagem está perfeita até hoje, apesar de ter se molhado. Tudo isso porque uma imensa paz se apossou de seu corpo, e quem está mandando nela é o coração. 
    É, agora seria um ótimo cenário para nossa personagem encontrar o que procura, porém já enjoei de pôr-do-sol em minhas histórias. Essa é diferente... 
    A imensa lua já se encontra no céu, junto de milhares estrelas, e Lygia Maier continua a andar, com um pequeno sorriso no rosto. Ela já havia passado pela plantação e agora já se encontrava em um pasto. 
    Ela puxou a barra do vestido, pulando em seguida a cerca. A noite estava silenciosa e misteriosamente linda. A flor agora encontrava-se em seu cabelo, completando o seu lindo rosto, e pela primeira vez nos últimos quatro meses ela desviou seus olhos do horizonte para admirar a noite, olhar o gado. Depois de alguns segundos ela voltou os olhos para o horizonte, e o que ela viu fez seu coração bater animado. Era a silhueta de alguém. A pessoa também pareceu ficar mais animada, pois pôs-se a andar mais apressadamente. A sensação era ótima, estava apaixonada. 
    Ela parou ainda olhando o jovem se aproximar. Ele tinha ombros largos, sorriso torto. Sua pele era morena e seus olhos e cabelos eram escuros. Ele estava com uma calça branca e uma camisa social cinza desabotoada, revelando seu peito nu. Seus pés estavam descalços, e em sua mão se encontrava uma linda rosa branca. Ela não precisava saber seu nome, pois tinha certeza que era ele. 
    Ele finalmente parou. Estava a uns cinco metros de distância. Seu sorriso era imenso. Parado, fitava Lygia, que fazia o mesmo. 
    - Eu sabia que te encontraria! – ele disse, revelando uma voz rouca que era ao mesmo tempo suave. 
    Uma sensação gostosa passou por seu corpo, era como se já conhecesse essa voz. 
    - Eu também... – ela disse docemente. 
    Ela estava feliz, encantada, pois ela havia finalmente encontrado o que procurava. Ela saiu correndo e pulou em seu colo, e ele em meio a risadas a rodou no ar. 
    Lygia Maier havia encontrado o seu primeiro amor.

Como nos Filmes

Às vezes eu queria ser livre como nos filmes. Como Pocahontas, que tinha aquela imensa floresta para desvendar, eu quero ser livre para poder ouvir o meu coração. Eu quero saber o que ele tenta me dizer todos os dias, dês da hora em que acordo até a hora em que me deito. Às vezes acho que ele grita comigo, mas eu estou presa em meu cotidiano, presa na cidade, na realidade, e infelizmente não consigo ouvi-lo.
Eu desejo ser livre como nos filmes de desenho animado em que se pode fazer tudo. Eu quero ser livre para pular de um precipício, e mergulhar no mais puro azul do mar. Eu quero ouvir o lobo uivar para a lua cheia no meio da noite sem sentir medo. Quero sentir prazer em sentir o vento bagunçar o meu cabelo no cume de uma montanha. Gostaria de sentir a harmonia entre a natureza e o humano.
Eu desejo segurar em meus braços um filhote de leão sem ser atacada. Eu quero ouvir o vento sussurrar no meu ouvido os segredos da floresta. Eu quero ver tudo, sentir tudo, e aprender de tudo. Eu quero ser livre. Quero sentir o prazer de correr livre – e descalça - em uma floresta. Eu quero subir em uma árvore e espiar um ninho com seus passarinhos.
Como Aladin, eu desejo voar em um tapete mágico e me deixar levar pelas maravilhas do mundo. Quero ver o mundo ideal que Deus me deu para apreciá-lo. Quero descobrir novas espécies, quero conhecer novos lugares.
Como Cinderela desejo ter uma noite maravilhosa em um baile. Quero conhecer um príncipe encantado e dançar com ele a noite inteira. Como Cinderela, eu quero acreditar que um dia os meus sonhos poderão se tornar realidade, e a única coisa que devemos fazer é acreditar neles, de todo o coração.
Como os irmãos Lúcia, Edmundo, Susana e Pedro, eu quero sentir o prazer de respirar o mais puro ar de Nárnia. Quero temer aqueles grandes olhos do rei Aslan. Quero passar a mão em seu pelo, e beijar sua juba. Quero percorrer os mais belos campos de Nárnia sentada em seu dorso. Desejo conhecer todas as criaturas, todas as dríades, quero participar de uma festa dos faunos, quero ser aplaudida pelas árvores, quero voar em um cavalo alado. Quero desvendar, viajar por toda a Nárnia. E depois de muitos anos, quero achar a porta do guarda-roupa e contar as novidades para meus amigos, mesmo que eles não acreditem.
Desejo que um dia Peter Pan entre pela minha janela e jogue em mim o pozinho mágico de Sininho, e com ele quero ir até a Terra do Nunca e vencer o Capitão Gancho. Quero ouvir em segurança o canto das sereias, e olhar de longe os piratas. Quero contar história de conto de fadas para os meninos abandonados que moram com Peter Pan dentro da imensa árvore. Quero dividir histórias com Wendy, e contar piadas para seus irmãos, e depois, quero voltar voando de volta para o meu quarto, e escrever detalhadamente tudo em meu diário. Quero ser livre.
Eu desejaria passar um dia no jardim secreto, e mais ainda passar um tempo junto com a linda Pequena Sereia pegando os tesouros encontrados no fundo mar e perguntar para o que eles servem. Gostaria de receber uma bronca de Sebastião, e ver do mar uma grande festa em um navio. Ah como eu queria que fosse como nos filmes.
Eu gostaria ter a coragem de Mulan e me alistar no exército por amor ao meu pai. Amaria de todo o coração desvendar os segredos do mundo do faz de conta. Gostaria que pelo menos um dia esse mundo se tornasse realidade para mim, porém está cada vez mais difícil se chegar nesses lugares, onde os animais falam livremente com você, e você com eles, pois a imaginação está sendo trocada pela preocupação do dia-a-dia. Quais? De fugir de furacões, tirar a água de dentro da casa devido as fortes chuvas, andar preocupado na rua com medo de ser assaltado, ou até mesmo seqüestrado. E com o tempo esses mundos vão ficando cada vez mais distantes de nossas vidas, de nossos corações. Infelizmente para mim essas histórias vão ficar apenas como faz-de-contas, mas que concerteza levarei comigo durante muito tempo, pois acredito que um dia talvez os meus sonhos se tornarão realidade, e eu poderei ser como nos filmes, livre.

Adolescência

    Ser adolescente é achar que o mundo vai acabar pelos problemas; é achar que aquele namoro vai durar para sempre, sem saber que o "sempre" não existe.
    Ser adolescente é passar horas no computador conversando com a melhor amiga, fofocando e trocando segredos. É deitar na cama de mau humor, porque os pais mandaram, mas só ir dormir depois de pensar em tudo o que está acontecendo no mundo, na vida.
    Ser adolescente é tropeçar em uma pedra e quase cair; é fazer caretas no espelho e rir da própria cara. É discutir com você mesmo, sem motivo.
    Ser adolescente é não ligar para o que os outros dizem; é extravasar em cada detalhe. É comer brigadeiro dereto da panela, por preguiça de tirar.
    Ser adolescente é querer sumir do mundo para nunca mais voltar, e arrepender-se rapidamente disso.
    Ser adolescente é sonhar com um mundo melhor. É criticar a roupa da outra, mas mal ligar para a própria.
    Ser adolescente é buscar o nada, querendo o tudo