"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." Charles Chaplin

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Marx Radix

Bom. Aqui eu tentei algo novo. Espero que gostem ;x

01-04-2000 
    - Josh!
    O velho levantou-se do chão segurando ainda a caixa de massa de tomate. O outro, de rosto vermelho, não o esperou responder.
    - O chefe está mandando você ir no porão para tentar concertar o problema da energia. 
    - No porão? – perguntou espantado. 
    Pedro deu uma risada curta.
    - Eu fiz a mesma pergunta para ele, e o chefe disse – ele ficou vesgo e engrossou a voz – não há nada lá que vá te matar!
    Então os dois riram.
    - Pode deixar que eu termino essa prateleira para você. Ah, e não se esqueça do Marx Radix! – ele tentou fazer uma voz tenebrosa. 
    O velho se virou abanando a cabeça e começou a atravessar os longos corredores do supermercado que estavam cheios, era dia de promoção. Ele sabia que Marx Radix era apenas uma lenda, que os próprios empregados inventaram para se divertir, e ter o que rir na hora do almoço, mas a idéia de entrar lá sozinho já era ruim, ainda mais o fato de estar velho, pois agora era mais restrito aos seus movimentos. E por muito tempo a piada vem sendo que Marx ficava no porão, pois fazia anos que ninguém ia lá. 
    “Permitido entrada apenas para funcionários”
    Josh empurrou a porta, e atravessou o pequeno quarto. Pegou no armário a caixa de ferramentas e pegou na gaveta a lanterna.
    Com passos lentos se dirigiu à pequena porta de madeira que ficava no fim do corredor mal iluminado, e abriu-a. 
    - Credo!
    O porão estava horrível. Haviam teias, moscas. Nem se fala da falta de ventilação e de iluminação. Tinha caixas jogadas, ratoeiras armadas, baratas na parede, infiltrações. O porão tinha um cheiro horrível, e era muito grande. 
    - Espero que isso não faça mal para o meu pulmão, - resmungou – o seguro de vida está muito caro!
    Ao passar pela porta, seus olhos por um momento ficaram cegos, e nesse instante o tempo pareceu parar, pois ouviu alguém chama-lo pelo nome, e segurar sua mão. 
    Assustado começou a balançar sua mão, tentando se livrar da pressão. Suas mãos com o toque ardiam, e seu pulso doía. Finalmente a visão voltou e ele prendeu o fôlego. Não tinha ninguém ali, estava sozinho. Ele olhou para o pulso, mas nada, nenhum corte. Estranho.
    - Legal – ele começou a descer os degraus, que rangiam – sou um velho que só reclama e estou com medo de um cara que nem existe!
    Já havia descido bastante, mas a escada parecia não acabar. Enquanto isso vasculhava o porão. Ele mesmo não sabia se era para ter certeza de que não tinha ninguém ali com ele, ou para ver se encontrava algum interruptor. Então, pisou em falso. O degrau quebrou e seu pé ficou preso. O velho instintivamente soltou o que segurava e se segurou no corrimão. A lanterna se apagou. 
    - Droga!
    Sem conseguir ver nada, começou a apalpar o chão a procura da lanterna. Percebeu que seu pé estava preso no último degrau.
    - Ai! – gritou.
    Começou a abanar a mão, mas o negócio não soltava. Finalmente conseguiu tirar o que parecia ser uma ratoeira de seus dedos e os colocou na boca. Em meio aos seus gemidos conseguiu ouvir alguém rir. Era uma voz rouca.
    Ele arregalou os olhos e tentou ouvir a voz, mas o silêncio tomou conta do ambiente. Ele olhou para cima, a porta estava muito longe. Ele voltou os olhos para a escuridão. É, ele teve certeza de que não estava sozinho ali, mas precisava terminar o serviço. Ele sabia que ninguém iria acreditar nele, e que ele perderia o emprego, de novo!
    Suas mãos ardiam. Ele tentava desesperadamente tirar o seu pé dali. A escuridão era muito desconfortável, queria sair dali. Estava exausto. E além do mais, estava se sentindo muito vulnerável.
    - Finalmente! – ele sussurrou.
    Com medo, saiu apalpando o chão. Encontrou a lanterna. Aterrorizado com o que poderia ver, a ligou. Nada. Ele iluminou todos os cantos, mas não tinha nada! Ele soltou a respiração.
    - Acho que estou tomando muitos remédios.
    Ele pegou a caixa de ferramentas do chão e caminhou até um interruptor que não percebera antes. Não aconteceu nada. Vasculhou nas paredes a caixa de força. Tropeçando nas caixas, chutando as ratoeiras e desviando das teias chegou à caixa. Suas mãos tremiam.
    Enquanto mexia nos fios começou a rir de sua situação. A poucos minutos estava acreditando que existia um homem de olhos roxos, com o nariz onde deveria ser a boca e que se alimentava de homens. Simplesmente ridículo.
    Ah, ainda tinha mais. Marx Radix tinha unhas de 10 centímetros verdes florescentes. 
    Escuro.
    - Mas que azar!
    Sem soltar o fio colocou a mão no chão, e segurou algo. Não era lanterna. Ele olhou para baixo e gemeu. Tirou a mão e começou a se arrastar no chão até aonde achava que estava a lanterna, enquanto fugia daquelas unhas verdes.
    - Não! Você não existe! – ele gritava.
    Ele trombou na parede.
    - Josh – Marx falou – tome sua lanterna.
    - Vá embora!
    - Não. Estou com fome!
    Ele achou uma tábua solta e a segurou. Podia sentir o mau hálito perto de seu rosto. As unhas verdes, a única coisa que se conseguia ver naquele escuro, estavam próximas.
    - Não! Ele gritou, e então bateu com toda sua força no Radix.
    Ele pode ouvir o pesado corpo cair no chão. Aterrorizado mergulhou na escuridão e saiu correndo em direção a porta que ainda estava aberta.
    E então tudo aconteceu muito rápido. Num segundo estava no chão e no outro imóvel, com aquelas unhas em seu peito e pescoço.

18-08-2005
    - Josh! Pare! – gritou o enfermeiro – Peguem a camisa de força.
    O velho se contorcia na cama. As lembranças não iam embora. Aquelas unhas, os olhos roxos, a voz. Tudo!
   - Ele existe! O Marx! – Ele insistia gritando.
    - Não Josh, você está louco! Gente, traz morfina.
    Josh tentava se livrar das mãos que o seguravam. Eram muitas. Estava desesperado.
    - Não me apaguem de novo! É na escuridão que ele aparece. Ele está me esperando.
    - Josh – sentiu a agulha o espetar – você está louco.
    Tudo de apagou. Então, lá longe na escuridão ele pode ver aquelas unhas brilhando vindo em sua direção

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