"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." Charles Chaplin

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Compra-se amor?

- Qual é o seu número?
- Trinta e sete!
- Vou pegar para você então!
Ela sorriu como resposta e o observou sair apressado para pegar os sapatos. A loja estava cheia e o dia congelante. Esbarrando a bolsa em algumas pessoas, finalmente conseguiu sentar-se em um banco onde tirou suas luvas e arrumou o cabelo.
O vendedor era jovem como ela. Tinha ombros largos, pele morena e cabelo escuro. Seus olhos eram claros e a fitavam de modo diferente, e ela gostou dessa atenção. Era alto e forte, e conseguia seguir sua conversa mesmo sem conhecê-la. Ficou imaginando se ele não fazia todas suas clientes se sentirem assim.
Mas isso não importava agora, ele estava descendo as escadas. Ela acenou para ele, pois não a estava encontrando, e com um sorriso foi em direção a ela com várias caixas em seus braços. Ela o observou colocar as caixas no chão e ficou ouvindo seus comentários e opinião de cada sapato enquanto ela provava. Estava se divertindo, e sua companhia era agradável. Já havia se passado 30 minutos, e não escolhera nenhum!
Finalmente ela conseguiu ver em seu crachá o seu nome: Richard.
- Gosto do seu nome!
Ele a encarou surpreso, depois olhou para o crachá, e sorriu.
- Gostaria de saber o seu. Qual é?
A menina sorriu, mas percebeu algo que a deixou sem palavras. Na mão em que ele segurava seu crachá, tinha uma aliança. Aliança? Tentando reprimir sua raiva por ter se imaginado ao seu lado, olhou para o relógio.
- Perdão, mas está muito tarde e eu preciso ir!
Ele a encarou confuso.
- Já? Não vai nem levar um sapato?
- Vou, o roxo!
Richard levantou-se, fechando as caixas e levando a compra ao caixa. Uma mulher já de idade, de aparência simples a atendeu, e ela a apagou.
- Obrigada!
A jovem deu meia volta com pressa, e viu que Richard a esperava. Ele se aproximou, quase a tocando, e seus olhos claros tentavam descobrir o que havia acontecido com sua cliente, mas ela recusava-se a encará-lo.
- Ei! – ele sussurrou, e ela encarou sua mão, com aquela maldita aliança, agora na dela e finalmente olhou para seu rosto. – Você não me disse seu nome.
Ela riu.
- Não, não disse.
Então, se soltou de suas mãos, e com passos apressados contornou seu corpo. Com um suspiro, pegou suas luvas que já estava esquecendo e deu um sorriso, contente por estar saindo daquela loja. Ainda sentia os seus olhos a observando.
De algumas coisas tinha certeza: primeiro, nunca mais voltaria àquela loja, segundo, estava muito feliz por não ter dito o seu nome. Além do mais, ela nem gostava da cor roxa.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário